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Fazia tempo que pensava em fazer a travessia Petrópolis-Teresópolis sozinho. Não é o mais recomendado — os riscos são muitos e reais. Mas também é verdade que, quando a gente para de focar só nos perigos e começa a pensar nas soluções, o medo cede espaço à confiança. A oportunidade surgiu de forma inesperada: estava tudo certo para fazer a trilha com amigos, mas na véspera, por motivos diversos, todos precisaram desistir. E eu decidi seguir sozinho. Era um sábado, 07/06/2025. Dia totalmente nublado.
Encarei como um treino, mas era também um desafio pessoal. Já conhecia bem o percurso — era minha oitava travessia. Fiz três vezes em dois dias e, com essa, foram cinco concluídas em um único dia. Mas nunca antes havia feito solo. Na portaria do Parnaso encontrei amigos que fariam a travessia em 2 dias.
Comecei a caminhada às 7h03, com a meta de concluir em 10 horas. Acabei levando 11 — mas meia hora foi só de prosa com outros trilheiros e guardas-parques que encontrei pelo caminho. Numa trilha assim, basta dar um bom dia e boa tarde, e seguir em frente.
O tempo estava instável, com muita neblina, mas não choveu. Em vários trechos, nuvens passavam tão densas que parecia que eu caminhava dentro delas. Usei a capa de chuva nos pontos mais altos, onde a umidade molha de verdade. Apesar disso, a sinalização é boa, e só precisei do GPS duas ou três vezes, especialmente nos chapadões.
Os horários do percurso foram:
7:03 – Início da trilha
8:10 – Pedra do Queijo
8:50 – Ajax
9:40 – Graças a Deus
10:00 – Castelos do Açu
10:05 – Abrigo (parei tempo demais)
10:50 – Morro do Marco
11:48 – Morro da Luva
12:22 – Final da subida do Elevador
12:43 – Morro do Dinossauro
13:48 – Pedra da Baleia
14:10 – Cavalinho
14:40 – Abrigo 4
14:55 – Início da descida
18:10 – Barragem. Fim da trilha
19:00 – Portaria do parque (chamei o carro para a rodoviária)
Não fui até os Portais nem até o Sino. A visibilidade era zero — nuvens espessas cobriam tudo. Se tivesse ido, acrescentaria pelo menos mais uma hora de caminhada. E como minha meta era concluir com luz natural, achei melhor seguir direto. Ainda assim, terminei já no escuro, usando lanterna. Estava nos dias do pôr do sol mais cedo do ano, às 17:14.
A volta foi de ônibus, no último que saiu da rodoviária às 20h. Foi um alívio conseguir esse transporte, pois dormir em Teresópolis era uma possibilidade real. Se puder, compre a passagem antecipadamente. E sempre tenha um plano B ou um resgate em mente. A ida foi de carro com um amigo.
Foram 26 km até a barragem, mais 3 km até a portaria. Ralei o joelho — vacilei ao esquecer a joelheira, que é fundamental em alguns trechos de trepa-pedras, quando os joelhos são literalmente apoio. Além disso, a vegetação devido ao sereno da noite, molha as pernas e a água escorre para a bota. Polainas ou perneiras ajudam não se molhar, e não só contra cobras, mas também contra pancadas e cortes nas canelas.
Levei 2 litros de água com isotônico desde casa. Foi suficiente até o Abrigo 4 — se o dia estivesse ensolarado, teria acabado bem antes.
No dia seguinte o corpo ainda dói um pouco, mas a mente está leve e feliz. Fiquei em casa, descansando com a família, satisfeito. Não foi só uma trilha. Foi enfrentar os próprios limites, sozinho, e vencê-los com serenidade.
Foi um mergulho na solitude, na força e na entrega. Como um tipo de meditação, para reflexão, autoconhecimento e autossuficiência. A montanha ensina, mas só a quem escuta.
E ontem, ali em silêncio, eu escutei.
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Equipamentos de segurança disponíveis na trilha: comunicador via satélite SPOT-X, GPS Garmin, GPS Alpine Quest nos celulares, 2 celulares com 3 chips (Claro, Vivo e Tim), 2 lanternas de cabeça e 1 de mão, 20m de cordelete, anorak, fleece, quebra-vento, luvas, chapéu com protetor, bandana, segunda-pele, barraca aluminizada de emergência, kit com termômetro, apito, pederneira, espelho e bussola, powerbank, pilhas alcalinas, 2 litros de água com isotônico, alimentos e energéticos suficientes, 2 bastões de trilha, 2 capa de chuva, mochila de 44 litros.































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