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As montanhas guardam o cume da nossa imaginação.

Desvendando os tesouros dos Três Picos…

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Caixa de Fósforo, Bico Maior e Torres de Bonsucesso, um triângulo de observação.

Faltava mesmo dar-lhe uma atenção especial pois os outros parques que circundam o Rio de Janeiro estavam ocupando todos os tempos livres para as caminhadas mas, desde o último ATM/16, quando vi no stand oficial do Parque Estadual dos Três Picos – PETP, um cartaz mostrando o roteiro de uma mega trilha-travessia de 150km, cruzando todos os vales e passando pela maioria das montanhas e picos, conhecer o maior parque do estado do RJ, se tornou uma idéia fixa e fiquei aguardando ansiosamente o CEB programar essas trilhas. Seu tamanho é mais do que o dobro da Ilha Grande e chega quase a metade do Parque Nacional da Serra da Bocaina. Está na extremidade norte dos 1500 km de extensão da maravilhosa Serra do Mar, que começa em Santa Catarina. E na sua zona de amortecimento está cercada de pequenos produtores rurais que nos permitem trazer mais do que lembranças e fotografias para o Rio, e foi isso que fizemos, trazendo queijos, ovos caipira de gemas amarelo intenso, folhas e hortaliças. Já é de praxe colocar na mochila alguns sacos destinados a essas “iguarias da roça”. O parque também é um dos mais novos do estado, foi fundado oficialmente em 2002. Chegar ao parque desde o Rio é relativamente fácil, existem várias entradas e não é preciso ter um 4×4.

Tendo sido adiada uma viagem, na véspera do final de semana vi que ainda restavam duas vagas no trekking planejado pelo Almir de Abreu e pelo o Martinus Van Beeck, que nos guiariam, e imediatamente me inscrevi. Assim, no sábado fomos ao Bico Maior dos Dois Bicos de Friburgo, uma montanha rochosa e pouco cônica, com um pequeno platô no seu cume, que vista de longe meio que intimida os menos ousados pois num dos seus lados se via um paredão quase que vertical de algumas centenas de metros, mas do outro lado – por onde subimos – era bem suave. Aliás, essa é uma característica de muitos maciços de granito da Serra do Mar criando formas quase mágicas que desafiam a imaginação, como a Caixa de Fósforo, onde a erosão de milhões de anos deixou a vista gigantescos blocos de granito suspensos como totens de um mundo de gigantes.

Como éramos um grupo grande, em torno de duas dezenas de caminhantes, os animais silvestres não se deixam avistar facilmente, mas estavam lá percebendo nossa presença. Num certo momento ouvimos o canto enigmático da Araponga, bela ave branca que sugere a batida de uma bigorna ou mola metálica. Vimos também alguns casais de gaviões caçando pelos campos. Mas, ali também é terra dos felinos, como a suçuarana e a jaguatirica, mas muito ariscos para se deixarem avistar facilmente. No caminho vimos muitas flores e pequenas florestas de bromélias florescendo nas escarpas dos paredões rochosos.
O Bico Maior seria a nossa primeira montanha a ser conquistada. Deixamos nossos carros perto do início da trilha, próximo da última fazenda do entorno, e abrindo e fechando portões, subimos. Logo no início encontramos alguns belos exemplares de um gado que é o símbolo do gado pantaneiro, o Tucura do Pantanal, mas que está quase extinto no Brasil, depois de existir aos milhões. Seus chifres simetricamente iguais, opostos e circulares, lhes dão uma estética impossível de não ganharem muitas fotos de todos os cruzam por eles.

Caminhamos suavemente por 3,19km km até chegar ao platô do cume a 1.513 metros de altitude (6,38km de ida-e-volta), onde fizemos o lanche coletivo, o descanso, a inevitável sessão de fotos e assinamos o livro do cume. Isso mesmo, ali tem um livro do cume! Era mais uma montanha conquistada entre todas as montanhas que a vida nos presenta. Na volta paramos na belíssima Cachoeira dos Frades, que forma várias quedas e uma enorme piscina de banho.

Após 38 km de estrada, parte no asfalto e parte na terra, chegamos onde seria a nossa primeira e única noite, um refúgio de montanha, o aprazível Refúgio dos Três Picos, situado no meio do caminho da entrada do Parque, cujo proprietário, o Zezinho, ficou íntimo e nos tratou como parte de sua família. Esta região do entorno do Parque é repleta de pequenos produtores rurais e outras pousadas parecidas. Nossa primeira noite foi de saborear cervejas artesanais e um vinho, jantando num buffet que agradou tanto os carnívoros como os vegetarianos.

No dia seguinte fomos conhecer um dos lugares mais belos do parque, a montanha granítica chamada Caixa de Fósforo, um monólito a 1.803 metros de altitude também conhecido como Pedra dos Milagres, por estar “milagrosamente” apoiada. Iniciamos a trilha de 3,75 km um pouco mais acima da pousada (7,4km de ida-e-volta), entrando no parque por um caminho repleto de grandes araucárias e pinheiros, nos mais belos cenários dos campos de altitude da Serra do Mar, cercado de vários picos e montanhas, indo até a sede do parque e ao local acampamento onde estavam sendo realizadas as últimas aulas do CBM-99. Como não podia deixar de ser, fizemos a foto coletiva com mais de 30 CEBianos! (ou CEBenses!).
Numa trilha bem sinalizada nas bifurcações, fomos todos subindo quase sempre em fila indiana, conversando em pequenos grupos, passando ao lado de montanhas e pedras famosas como o Capacete, o Pico Maior, o Pico Menor. Já no alto, nos diversos mirantes que surgem, víamos os conjunto dos vales principais, de um lado o vale dos Frades e do outro o vale dos Deuses, e mais ao longe a pedra Cabeça do Dragão, entre tantas outras. Chegamos em frente da Caixa de Fósforo mas ainda havia o trecho mais difícil a vencer com apoio de uma corrente e das cordas que levamos, pois seria como ir a Roma e não ver o Papa se chegássemos lá e não subíssemos na base daquele totem monolítico que parece desafiar as leis da gravidade. Realmente, estando ao lado dele ficamos alguns minutos nos indagando como tudo aquilo foi formado e quão bela é a natureza.

As Torres de Bonsucesso, que formam um dos vértices do triângulo de observação do Parque, junto com o Bico Maior e a Caixa de Fósforo, foram conquistadas três semanas antes em um único dia, num trekking taticamente perfeito subindo primeiro na Torre Maior, de caminhada mais exigente, com 2.034 metros de altitude, e ao retornar indo nas demais, a Torre Média e o Ferro de Passar Roupa, numa trilha de 7,3 km de ida e volta guiada pelo Fernando Magalhães, e repleta de emoção pois tínhamos, semelhante ao Bico Maior e à Caixa de Fósforo, de um lado o abismo, um paredão rochoso quase vertical, e no outro lado, numa inclinação mais suave, a floresta ombrófila de alta montana, por onde caminhamos.

A missão estava cumprida! Com a Caixa de Fósforo, o Bico Maior e as três Torres de Bonsucesso, podemos dizer que experimentamos la crème de la crème do Parque Estadual dos Três Picos.

Álbum das fotos do trekking Bico Maior e Cx de Fósforo: https://goo.gl/photos/yvkuAjpVyYcGZC8d6

Álbum das Torres de Bonsucesso: https://goo.gl/photos/PP2d5x6iwz6zdmZJ8

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